todas as coisas

tdq

tem dias que tudo é difícil:
acordar às 7h, sair da cama e olhar para quem chora
lavar os pratos do final de semana, fazer o café e alimentar quem chora
brigar, ensinar, perder a cabeça e enlouquecer.
tudo antes das 8h.

às 9h a vontade é de chorar.
se esconder atrás da porta, não sair no lençol azul
não ouvir
não falar
não querer

às 10h enfio a cabeça entre as mãos e apoio sobre o volante
num ato de drama maior
no meio da avenida

n. vs. i.

viver em são paulo é a eterna busca por mais tempo, tempo para ser quem a gente quer ser e não para ser o que outras pessoas querem da gente.

já vim de outra cidade, já tive outros ritmos de vida. a impressão que tenho por aqui é que quando as pessoas vivem numa cidade tão grande por muito tempo, elas acabam achando que isso é o normal e a única possibilidade de ritmo para se levar é esse. na verdade, uma cidade como sp é uma exceção dentro do brasil, já que aqui é normal estar sempre atrasada, sempre nervosa e sempre sem tempo para cuidar da própria vida e do próprio tempo.

esse é um modo de vida que na verdade interessa às corporações – que possuem dentro de sp uma grande massa de mão de obra. quando vc tira a possibilidade das pessoas de terem tempo para pensar, você tira delas a possibilidade de buscar outras alternativas e alegrias de vida.

isso é o que fazemos da nossa vida. trabalhamos em grandes corporações (aqui incluo empresas, agências, etc) e assim abrimos mão do tempo que precisamos para o nosso lazer, para andarmos na rua, para recebermos o que existe de bom da cidade. optamos por acordar, trabalhar, ficar tristes e tentar compensar a tristeza da falta de tempo em troca de um consumo nada barato de roupas, sapatos, bares, baladas e outras coisas que achamos que nos fazem bem. seguirmos esse modelo proposto de vida, para termos a “segurança” e “estabilidade” que nossos pais e os nossos amigos esperam que tenhamos, pois é dentro desse molde que a sociedade encontra a segurança para trabalhar, a possibilidade de construção de família, entre outras coisas.

certa vez eu assisti uma entrevista de maurício de souza onde ele falava que o escritório dele era em sp e, de repente, as histórias da turma da mônica ficaram todas iguais, sem criatividade. ele pegou o escritório e os roteiristas e transferiu de volta para as suas cidades de origem, onde as pessoas podiam viver com uma qualidade de vida melhor e assim as histórias voltaram a ser mais criativas e cheia de novas ideias.

a criatividade é isso: é termos tempo para pensar, tempo de absorver e mexer dentro da cabeça o que estamos consumindo de referências e inspirações. o imediatismo que a grande cidade impõe não nos deixa ter essa parte de absorção e entendimento necessário para que algo criativo nasça de dentro da gente. o tempo é um meio para a realização disso.

o natural, o nosso natural, é olhar o que está em nossa volta e tentar achar aquilo que podemos fazer e que nos agregue um valor para a vida. o desafio é encontrar algo mediante a correria em que vivemos. o mais importante é querer (e ter disposição) para parar e refletir sobre o que está a nossa volta, sobre o que esperamos e queremos da nossa vida e tentar achar um meio para realizar tais mudanças.

foda e não fodástico, por favor.

me incomoda quando no meio de qualquer texto eu vejo a palavra “fodasticamente”. ou ainda, aquela referência pessoal: fodástico.

para fodástico temos aproximadamente 538.000 resultados no google. para fodasticamente temos aproximadamente 82.230 resultados. somando tudo, temos 620.230 incômodos em textos que podem ser até relativamente legais e que se perdem justamente na hora em que elas aparecem.

quando vejo uma dessas palavras nesse mundo da internet sinto uma coisa triste na hora. é um tipo de sensação esquisita, uma relação engraçada, como se o texto fosse bom até aquele momento (não que esse que eu estava lendo fosse) e a partir dali deixasse de lado toda a parte boa, todo o enredo, toda a coerência. um sentimento de que todas as palavras bonitas e frases bem contruídas foram amassadas e jogadas no lixo mais próximo.

é como se no meio do texto o namoro acabasse. como se o casamento de 70 anos fosse para o ralo. como se o vinho chegasse ao fim naquela noite mais solitária. como se o vinil do chico buarque arranhasse na faixa favorita. como se o cara broxasse no momento mais importante da noite.

não é exagero. é incômodo. uma coisa que já é foda já possui uma grandiosidade única. fulano é foda. pode ser foda de bom ou foda de ruim. não importa. é grande. tem densidade. uma coisa fodástica é broxante. se uma pessoa fala que fulano é fodástico  na hora eu penso que fulano é um babaca.

por isso, amigos, não usem fodásticos ou fodasticamente por aí. vai perder o valor.

 

para longe

passou a noite procurando. procurava por tudo, inclusive por si própria. tudo perdido no meio da bagunça acumulada por meses. bagunça de casa, bagunça de coração. tudo foi embora: os amores, os discos, o despertador antigo que quebrou. o despertador: presente da mãe quando fez 10 anos, dizia que era para começar a ter responsabilidade com os horários,  mas com o passar dos anos achou queo presente  foi em vão.

abriu a caixa de fotografias e sentou no chão. no meio de um gole de cerveja achou uma foto antiga com os amigos. lembrou de como amavam aquele bar, o quanto choraram os amores perdidos e o quanto comemoraram os amores achados, “ah, se aquelas mesas falassem”. continuou vendo o álbum e depois de vinte-e-tantas fotos o que restou foi muito choro, muito riso e muita saudade pra alimentar o coração.

andou até a estante e começou a fitar os livros. dentro de um deles achou o passaporte perdido por anos, lembrou que guardou depois de uma briga com sua irmã, era um lugar seguro para que a louca não o jogasse pela janela. com ele em mãos, decidiu viajar para algum lugar em que pudesse se encontrar. olhou o que restava da bagunça, separou o que importava no meio de tudo, jogou na mala e foi embora trancando o apartamento. nas escadas o que ouvia no seu ipod determinava que agora era a sua hora de ser feliz.

silêncio, soluços e aspirinas

Algumas coisas nos fazem chorar. Não soluçar e dissolver, mas escorrer lágrimas que não são exatamente nossas. É um choro parceiro. Um choro de amiga. Aquele de quem quer, no fundo, roubar a tristeza alheia, quer chorar pra que ela possa, enfim, sorrir. É impossível não doer quando uma amiga chora. É impossível não borrar. Essas lágrimas são muitas vezes mudas, caladas pela dor, mas nunca (nunca) menos parceiras. Nunca menos sentidas. Se falasse, esse choro seria um misto de piadas antigas para descontrair e xingamentos duros a alguém, alguma coisa ou simplesmente ao maldito azar. O choro de uma amiga é tão nosso quanto o filho que acabamos, juntas, de perder. É tão nosso, quando o ódio sofrido pela traição que acabamos, juntas, de descobrir. É tão nosso quanto o erro que acabamos de cometer. Esse choro alheio que escorre em nosso rosto é tão sincero quanto aquela gargalhada que decora há anos a geladeira. E é esse choro, inteiro e dividido, que puxa o abraço. É esse choro, conjunto, que enraíza o que, em breve, florescerá. É ele, dolorido e intensamente nosso, que diz, sem dizer: vai dar tudo certo, amor. Eu prometo.

da tpm

dinda – queria me enjoar de você

meu bem,

desde que achei esse vídeo no twitter eu não consigo parar de ouvir. tá no repeat desde às cinco horas. e cada vez que eu escuto ele me comove mais, me arrepia mais e me deixa mais feliz. é puro amor, é uma coisa tão boa de sentir que não consigo parar de tocar. e isso lembra os idos de 2007, aquela coisa que diz na música voltando-da-sua-casa-ontem-reparei-que-eu-tinha-ficado-lá. e vc ficou aqui também, no meu peito. e continua. sempre e sempre.

eu espero que você goste.

horto sessions#1_dinda parte 2 from horto filmes | clara cavour on Vimeo.

lembra que no primeiro toque
deu choque
lembra que você mudou de cor

queria me enjoar de você
do doce do seu beijinho
do cheiro, do jeito, da fauna e da flora

lembra dos dias azuis, que luz
lembra seu corpo junto do meu

queria me enjoar de você
mas não consigo
o jeito é deixar doer pra ver se sara

eu não vou fazer mais nada
nem vou me lembrar de te esquecer
voltando da sua casa ontem, reparei que eu tinha ficado lá

obs: estou com saudades das nossas cartas musicais.

sempre sua,
a.

um mês depois

my dear,

cheguei em casa.
agora sei que já posso chamar esse apartamento de casa sem tanta confusão na minha cabeça. talvez um pouco de dor, mas confusão acho que não. aquilo não me pertence mais. só ficaram os discos, a fotografia e os meus medos. tentei deixá-los por lá, pra aliviar o peito.

no aeroporto, os meus olhos encheram de lágrimas muitas vezes enquanto eu esperava o meu voo, principalmente quando pensava em tudo o que aconteceu durante o último mês. aquele lugar não é mais o mesmo. mas se tem uma coisa que aprendi (ou pelo menos tento aceitar) é que não podemos esperar muito das pessoas. só precisamos estender o braço quando elas chegam, do tipo, vemcámedáasuamãoeumabraçoevamosconversarsobreoquevocêquiser. sem cobranças. vivendo aquele único momento. vamos falar das pessoas, de oferendas, da nossa vida e de como demoramos pra nos reunir mais uma vez.

e mesmo tentando não sofrer, cheguei em casa e o meu peito apertou de saudade dos meus queridos de sempre. vi que você sentiu o mesmo e ficou bolando de um lado pro outro. me desculpe, mas não sei o que dizer pra você. quando fui no supermercado comprei um chá novo de melissa com flor de laranjeira pra ver se esse verão passa logo pois eu quero ver as folhas caindo aqui da varanda tomando chá com você.

e em casa.

com amor,

*a foto é do meu tigermilk

tomando nota sobre a vida

acabo de ler algo incrível em uma conversa de msn sobre a vida e todas as conspirações, certezas e incertezas que ela nos proporciona. e compartilho por aqui, pra tomar nota* sempre quando essas dúvidas surgirem novamente.

– a vida é exata. e ela sempre se acerta.
eu acho isso uma grande verdade
acredite. tá tudo girando pra ficar no lugar certo.
eu repito isso SEMPRE pra mim.
as coisas tendem ao equilibrio. o universo.

é isso.
anotei (:

*tomar nota: expressão bastante usada por minha voinha, que tomava nota das coisas (anotava em algum lugar) pra não esquecer depois.